Desde que eu era criança em Bauru, meus avós seu Duarte e Dona Dora faziam questão de reunir a família durante as festas de final de ano. Me fascinava aquele monte de tios e tias trabalhando para a festa. A Vó matando a galinha, a mãe fazendo a sobremesa, o tio mudando os móveis de lugar, todo mundo espremido numa casa pequena. Ninguém reclamava, era uma grande festa, do jantar do dia 24 para o almoço do dia 25. E emendando com o dia 31, claro! Mas um dia Vô Duarte morreu. E logo em seguida a Vó Dora se foi. Sem os dois para servir como norte, nunca mais a família se reuniu. Formamos outros núcleos, menores, e aquelas festas generosas parece que vão rareando. As pessoas não têm mais saco para as horas de cozinha, a tonelada de louça, roupas de cama e toalhas para lavar depois. E o dinheiro que custa uma reunião dessas? Estamos ocupados demais, cansados demais, apressados demais… Estamos perdendo aquilo que o cientista político e professor norte americano Robert Putnan definiu como “capital social”: nos últimos quarenta anos assistimos a redução do envolvimento cívico e político, dos laços sociais informais, da tolerância e da confiança. Passamos menos tempo com os amigos, frequentamos menos clubes, nos afastamos da política, dedicamos horas e horas à televisão (e agora internet) e recebemos pela mídia uma carga diária de catástrofes que nos transformam em indivíduos medrosos, descrentes e desconfiados. Nesse ambiente, “Interação social” passa a valer a pena só quando dá lucro. E é então que o Vô Duarte e a Vó Dora fazem uma tremenda falta.See
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